A infância controlada pelo Jornalismo:
a voz da criança como fonte institucionalizada na revista Nova Escola
Resumo
Este artigo objetiva inicialmente compreender como a voz da criança foi incluída no conteúdo jornalístico da revista Nova Escola em seu último ano no formato impresso. A partir de procedimentos da Análise de Discurso, examinamos todos os textos de 11 edições da revista – de outubro de 2018 a outubro de 2019 – e identificamos que apenas 11 crianças foram incluídas como fonte nesse período. As citações de crianças estavam presentes em matérias que apresentavam interdiscurso com pautas sobre Risco Social e Comportamento, Culturas e Consumos. Com isso, a voz dos infantes aparece de forma redutora: ou como fragilizados ou como consumidores. Das 11 Sequências Discursivas que formaram o corpus inicial, sete têm o sentido de reverência à escola como preponderante e quatro, de indignação controlada. Concluímos que Nova Escola buscava controlar as crianças, pois elas aparecem como institucionalizadas ao reafirmar um trabalho que estava sendo realizado por professores ou pelas escolas. O artigo também faz a análise dos cinco textos mais acessados na plataforma virtual da revista na última semana de agosto de 2024, evidenciando que a revista perdeu características jornalísticas e a voz das crianças desapareceu.
Palavras-chave: Infância; Revista Nova Escola; Educação; Consumo; Análise do discurso.
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