A infância controlada pelo Jornalismo:

a voz da criança como fonte institucionalizada na revista Nova Escola

Autores/as

Resumen

Este artigo objetiva inicialmente compreender como a voz da criança foi incluída no conteúdo jornalístico da revista Nova Escola em seu último ano no formato impresso. A partir de procedimentos da Análise de Discurso, examinamos todos os textos de 11 edições da revista – de outubro de 2018 a outubro de 2019 – e identificamos que apenas 11 crianças foram incluídas como fonte nesse período. As citações de crianças estavam presentes em matérias que apresentavam interdiscurso com pautas sobre Risco Social e Comportamento, Culturas e Consumos. Com isso, a voz dos infantes aparece de forma redutora: ou como fragilizados ou como consumidores. Das 11 Sequências Discursivas que formaram o corpus inicial, sete têm o sentido de reverência à escola como preponderante e quatro, de indignação controlada. Concluímos que Nova Escola buscava controlar as crianças, pois elas aparecem como institucionalizadas ao reafirmar um trabalho que estava sendo realizado por professores ou pelas escolas. O artigo também faz a análise dos cinco textos mais acessados na plataforma virtual da revista na última semana de agosto de 2024, evidenciando que a revista perdeu características jornalísticas e a voz das crianças desapareceu.

Palavras-chave: Infância; Revista Nova Escola; Educação; Consumo; Análise do discurso.

Biografía del autor/a

Thaís Helena Furtado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FABICO/UFRGS)

Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM/UFRGS) e professor Adjunta do Departamento de Comunicação/Jornalismo (DECOM) da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FABICO/UFRGS). É líder do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo (NupeJor/UFRGS/CNPq). Membro do conselho administrativo da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR). Pesquisadora cofundadora da Rede de Pesquisa em Comunicação, Infâncias e adolescências (RECRIA). Membro da Comissão Editorial da revista científica Intexto (PPGCOM/UFRGS).

Citas

BENETTI, M. Análise do discurso em jornalismo: estudo de vozes e sentidos. In: LAGO, C.; BENETTI, M. (org.). Metodologia de pesquisa em jornalismo. Petrópolis: Vozes, 2007.

BEZERRA, C. F. Inclusão escolar em revista (2001 a 2011): as (re)formulações discursivas do periódico Nova Escola. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 36, n. 77, p. 757-806, maio/ago. 2022.

BUCKINGHAM, D. Os direitos das crianças para os media. In: PONTE, Cristina (org.). Crianças e jovens em notícia. Lisboa: Livros Horizonte, 2009.

DORNELLES, L.; BUJES, M.I. Alguns modos de significar a infância. In: DORNELLES, L.; BUJES, M.I. Educação e infância na era da informação. Porto Alegre: Mediação, 2012.

DORNELLES, L. Infâncias que nos escapam: da criança na rua à criança cyber. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

FURTADO, T. O aprofundamento como caminho da reportagem de revista. In: TAVARES, F.M.B.; SCHWAAB, R. (orgs.) A revista e seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013.

FURTADO, T.; DORETTO, J. Criança cidadã?: os manuais de redação e as orientações sobre infância e adolescência. Revista Mídia & Cotidiano. Volume 14, Número 1, jan-abr de 2020

LOYOLA, V. D. O consumidor na infância: as faces do consumo infantil. Anais do XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Natal: Intercom, 2008.

OECHSLER, K. M.; SILVA, N.M.A. O bom professor na revista Nova Escola. Atos de pesquisa em comunicação - PPGE/ME v. 7, n. 4, p. 1202-1223, dez. 2012

ORLANDI, E. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2000.

PONTE, C.; AFONSO, B. Crianças e jovens em notícia: análise da cobertura jornalística em 2005. In: PONTE, C. (org.). Crianças e jovens em notícia. Lisboa: Livros Horizonte, 2009.

RIPA, R. A revista Nova Escola e as pesquisas em educação: uma revisão da Literatura. Anais do VIII Congresso Nacional de Educação, 2022.

SOUZA J.; FORTALEZA, C.; MACIEL, J.. Publicidade infantil: o estímulo à cultura de consumo e outras questões. In: VEET, Vivarta (org.). Infância & consumo: estudos no campo da comunicação. Brasília: ANDI; Instituto Alana, 2009.

TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo: a tribo jornalística. V. 2. Florianópolis: Insular, 2008.

TUCHMAN, G.. A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade dos jornalistas. In: TRAQUINA, N. (org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. 2.ed. Lisboa: Educação Vega, 1993.

Publicado

2024-12-23

Número

Sección

Dossiê - Tecnologias e Práticas no Ensino para o Consumo Consciente