(DES)CONEXÕES FAMILIARES: O USO DAS TECNOLOGIAS E AS IMPLICAÇÕES RELACIONAIS
Resumo
Considerando o crescente uso das Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs) na sociedade e as mudanças decorrentes desta transformação, o presente artigo buscou compreender as repercussões do uso das TDICs nas relações familiares com crianças e adolescentes na percepção dos pais. Desta forma, realizou-se um estudo qualitativo de caráter exploratório em que foram pesquisados quatro casais heterossexuais, com idades entre 18 e 50 anos, casados ou em união estável, residentes na mesma casa e com pelo menos um filho entre zero e 18 anos. Os casais foram selecionados por conveniência, de modo a contemplar pelo menos um filho nas diferentes fases do desenvolvimento infantil. Como instrumentos utilizou-se um questionário sociodemográfico e uma entrevista semiestruturada com treze questões. A análise de dados se deu qualitativamente, com foco na dinâmica familiar, sendo que cada caso foi analisado primeiro individualmente e posteriormente, realizou-se a comparação das semelhanças e divergências entre eles. Os resultados demonstraram que o diálogo é um fator importante para o desenvolvimento de relações saudáveis e que, no entanto, o uso frequente das tecnologias diminui essa prática entre os membros da família. Também se identificou que o uso das TDICs pode influenciar negativamente o comportamento dos filhos e que a tecnologia pode ser benéfica, especialmente em relação à oportunidade de comunicação a distância e de novos aprendizados. Assim, reforça-se que possam ser preservados momentos familiares específicos para a convivência sem o uso das telas, a fim de preservar o diálogo e a atenção entre as pessoas.
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