QUALIDADE DE VIDA EM UMA USUÁRIA DE UM SERVIÇO DE ACOLHIMENTO PARA PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: UM ESTUDO DE CASO
Resumo
Qualidade de vida é definida pela Organização Mundial da Saúde como a percepção do indivíduo a respeito de sua posição na vida no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. A pretensão deste estudo é avaliar e compreender a qualidade de vida de uma usuária de um serviço de acolhimento para pessoas em situação de rua no interior do Rio Grande do Sul. Trata-se de um estudo de caso qualitativo cujo objetivo é assimilar de que forma o acolhimento na casa impactou nas diferentes dimensões da qualidade de vida de uma mulher em situação de rua. Os resultados apontam que no domínio físico, apresenta bons escores de qualidade de vida, apesar de depender da renda informal de seu companheiro para sobreviver. A perda de sua autoestima e identidade, bem como a dependência do álcool podem ser relacionados aos baixos escores apresentados no domínio psicológico. No domínio das relações sociais, sente-se pertencer ao espaço, apesar das necessidades de sobrevivência estabelecerem as relações entre andanças e deslocamentos. Com relação ao domínio meio ambiente, este apresentou escore regular, sendo marcado principalmente pela violência de gênero sofrida pela maioria dessas mulheres e que, neste caso, fez com que a entrevistada buscasse o serviço ofertado pelo abrigo. Constatou-se com esse estudo, que para melhorar a qualidade de vida da população em situação de rua, especialmente de mulheres, é necessário implementar políticas públicas e ações de cuidado que respeitem a autonomia, considerando as desigualdades de gênero.Referências
Abreu, P.B et al (1999). Condições Sociais e de Saúde Mental de Moradores de Rua Adultos em Porto Alegre. Relatório de Pesquisa. Porto Alegre: UFRGS/ PUCRS.
Aguiar, M. M., & Iriart, J. A. B. (2012). significados e práticas de saúde e doença entre a população em situação de rua em Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saude Publica, 28(1), 115–124. https://doi.org/10.1590/s0102-311x2012000100012
Bardin, L. (2001). Bardin, Laurence - Análise de Conteúdo. Edições 70.
Becker Vieira, L. I., Ferreira Cortes, L. I., Maris de Mello Padoin, S. I., & Becker Vieira, L. (2014). Abuso de álcool e drogas e violência contra as mulheres: denúncia de vividos. Revista Brasileira de Enfermagem, 67(3), 366–372. https://doi.org/10.5935/0034-7167.20140048
Bento Filho, C. C. (2000). Assistência como um direito. In Comissão de Cidadania e Direitos Humanos. Garantias e violações dos Direitos Humanos no Rio Grande do Sul. Relatório Azul da Assembleia Legislativa Do Rio Grande do Sul. (pp. 269–293). Assembleia Legislativa. http://www.dhnet.org.br/dados/relatorios/r_relatorio_azul/index.htm
Berg, M. J., Kremelberg, D., Dwivedi, P., Verma, S., Schensul, J. J., Gupta, K., Chandran, D., & Singh, S. K. (2010). The effects of husband’s alcohol consumption on married women in three low-income areas of Greater Mumbai. AIDS and Behavior, 14(4 SUPPL.), S126. https://doi.org/10.1007/s10461-010-9735-7
Bordignon, J. S., Silveira, C. C. S. da, Delvivo, E. M., Araújo, C. P., Lasta, L. D., & Weiller, T. H. (2013). ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RUA: Acesso aos Serviços de Saúde e Constante Busca Pela Ressocialização. ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RUA: Acesso Aos Serviços de Saúde e Constante Busca Pela Ressocialização, 11(20), 629–634. https://doi.org/10.21527/2176-7114.2011.20.629-634
Bortoli, S. R. (2013). Ela e nós. Congresso de Estudantes de Pós-Graduação Em Comunicação. http://www.coneco.uff.br/sites/default/files/institucional/bortoli_suzana.pdf
Bottil, N. C. L., Castro, C., Ferreira, M., Silva, A. K., Oliveira, L., Castro, A. C., & Fonseca, L. (2009). Condições de saúde da população de rua da cidade de Belo Horizonte | Bottil | Cadernos Brasileiros de Saúde Mental/Brazilian Journal of Mental Health. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 1(2), 15. http://stat.ijkem.incubadora.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/1141
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. (2008) Política Nacional para inclusão social da população em situação de rua. Brasília: MDS. http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_civel/acoes_afirmativas/Pol.Nacional-Morad.Rua.pdf
Brasil, Ministério da Saúde. (2012). Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. Brasília: Ministério da Saúde. http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/manual_cuidado_populalcao_rua.pdfX
Carneiro Junior, N., Nogueira, E. A., Lanferini, G. M., Ali, D. A., & Martinelli, M. (1998). Serviços de saúde e população de rua: contribuição para um debate. Saúde e Sociedade, 7(2), 47–62. https://doi.org/10.1590/s0104-12901998000200005
Cezimbra, L. (2001). Mulheres em situação de rua. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em serviço social), Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Brasil.
Costa, A. P. M. (2006). População em situação de rua: contextualização e caracterização. Textos & Contextos (Porto Alegre), 4(1), 1–15. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/993
Creswell, J. W. (2007). Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto (2. ed). Artmed.
Donato, M., & Zeitoune, R. C. G. (2006). Reinserção do trabalhador alcoolista: percepção, limites e possibilidades de intervenção do enfermeiro do trabalho. Escola Anna Nery, 10(3), 399–407. https://doi.org/10.1590/s1414-81452006000300007
Dresch Kronbauer, J. F., & Meneghel, S. N. (2005). Perfil da violência de gênero perpetrada por companheiro. Revista de Saude Publica, 39(5), 695–701. https://doi.org/10.1590/s0034-89102005000500001
Fleck, M. P., Louzada, S., Xavier, M., Chachamovich, E., Vieira, G., Santos, L., & Pinzon, V. (2000). Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref.” Revista de Saúde Pública, 34(2), 178–183. https://scielosp.org/pdf/rsp/v34n2/1954.pdf
Garibaldi, B., Conde-Martel, A., & O’Toole, T. P. (2005). Self-reported comorbidities, perceived needs, and sources for usual care for older and younger homeless adults. Journal of General Internal Medicine, 20(8), 726–730. https://doi.org/10.1111/j.1525-1497.2005.0142.x
Jasinski, J. L., Wesely, J. K., Wright, J. D., & Mustaine, E. E. (2010). Hard Lives, Mean Streets: Violence in the Lives of Homeless Women . By Jana L. Jasinski, Jennifer K. Wesely, James D. Wright, and Elizabeth E. Mustaine. Boston: Northeastern University Press, 2010. Pp. 208. $85.00 (cloth); $24.95 (paper). Social Service Review, 84(4), 700–702. https://doi.org/10.1086/659432
Mattos, R. M. (2006). Situação de rua e modernidade: a saída das ruas como processo de criação de novas formas de vida na atualidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Psicologia,Universidade São Marcos. São Paulo, Brasil.
Meneghel, S. N., Mueller, B., Collaziol, M. E., & de Quadros, M. M. (2013). Repercussões da Lei Maria da Penha no enfrentamento da violência de gênero. Ciencia e Saude Coletiva, 18(3), 691–700. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013000300015
Monteiro, F. K. V., & Almeida, L. P. (2017). A exclusão social de mulheres moradoras de rua: questões de gênero e políticas sociais. In Ebook Chile: território(s), género, trabajo y políticas públicas en América Latina. (pp. 117–128). Editora Provocare.
Natalino, M. A. C. (2016). Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil. Texto para Discussão (IPEA. Brasília). 2246, 1–36. https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/26102016td_2246.pdf
Porto, L., Backes, D. S., Diefenbach, G. D. F., Costenaro, R. G. S., Rangel, R. F., Lucio, D. B. M., & Martins, E. S. R. (2012). Viver Saudável: Significado para os moradores de rua do Município de Santa Maria. Revista de Enfermagem Da UFSM, 2(1), 59–66.
Prates, J.C; Abreu, P.B; Cezimbra, L. (2004). A mulher em situação de rua. In L. Capaverde Bulla; J.M.R Mendes; J. Cruz Prates (Orgs.) As múltiplas formas de exclusão social. (247p.). Porto Alegre: Federação Internacional de Universidade Católicas, EDIPUCRS,
Rosa, A. da S., Cavicchioli, M. G. S., & Brêtas, A. C. P. (2005). O Processo Saúde-Doença-Cuidado e A População em Situação de Rua. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 13(4), 576–582. https://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n4/v13n4a17.pdf
Sarmento, C.S. (2017). O gênero na rua: um estudo antropológico com as mulheres em situação de rua em Porto Alegre. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Sociais), Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Antropologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Brasil.
Schraiber, L. B., & D’Oliveira, A. F. L. P. (1999). Violência contra mulheres: interfaces com a Saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 3(5), 13–26. https://doi.org/10.1590/s1414-32831999000200003
Schraiber, L.B., D’Oliveira, A. F. P. L., França, I., Diniz, S., Portella, A. P., Ludermir, A. B., Valença, O., & Couto, M. T. (2007). Prevalência da violência contra a mulher por parceiro íntimo em regiões do Brasil. Revista de Saude Publica, 41(5), 797–807. https://doi.org/10.1590/S0034-89102007000500014
Schuch, P., Gehlen, I., Espindola Dornelles, A., Borba Silva Emília Estivalet Broide, M., Broide, J., Margarete Scherolt Pizzato Julia Obst, R., Finkler, L., Silva Santos, S., Nectoux, M., Machado Simone Ritta dos Santos, S., Krieger, K., & Obst Marta Borba
Silva, D. G. (2014). Corpos em situação de rua em Belém do Pará: os testemunhos da desfiliação social. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Pará. Belém do Pará, Brasil. http://www.ppgp.ufpa.br/Daiane%20Gasparetto%20da%20Silva.pdf
Silva, J. (2012). A Rua em Movimento: debates acerca da população adulta em situação de rua na cidade de Porto Alegre 1 a Edição Didática Editora do Brasil Belo Horizonte/MG 2012. In A rua em movimento: debates acerca da população adulta em situação de rua na cidade de Porto Alegre. (1a ed., pp. 43–57). Didática Editora do Brasil. http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/fasc/usu_doc/a_rua_em_movimento.pdf#page=43
Souza, C. A.; Fortini, P. F. (2008). Vozes da rua: um relato de experiência com moradores de rua. Monografia, Curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, Brasil. http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/PRISCILA-FORTINI.pdf
Tiene, I. (2004). Mulher moradora na rua: entre vivências e políticas sociais. Campinas: Editora Alínea.
Tolfo, S. da R., & Piccinini, V. (2007). Sentidos e significados do trabalho: Explorando conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros. Psicologia e Sociedade, 19(SPEC. ISS.), 38–46. https://doi.org/10.1590/s0102-71822007000400007
Varanda, W., & Adorno, R. de C. F. (2004). Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade da população de rua e o desafio para políticas de saúde. Saúde e Sociedade, 13(1), 56–69. https://doi.org/10.1590/s0104-12902004000100007
Ventura, M. M. (2007). Pedagogia Médica. Revista SOCERJ, 20(5), 383–386. http://sociedades.cardiol.br/socerj/revista/2007_05/a2007_v20_n05_art10.pdf
Villa, E. A., Pereira, M. O., Reinaldo, A. M. dos S., Neves, N. A. de P., & Viana, S. M. N. (2017). Perfil sociodemográfico de mulheres em situação de rua e a vulnerabilidade para o uso de substâncias psicoativas. Revista de Enfermagem UFPE Online, 5(11), 2122–2131. https://doi.org/10.5205/reuol.9302-81402-1-RV.1105sup201717
WORLD HEALTH ORGANIZATION (2002). World report on violence and health. Geneva, Suíça: World Health Organization.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (2016). Violence against women. Intimate partner and sexual violence against women.
Yin, R. K. (2010). Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman.
Zanello, V. (2018). Saúde Mental, Gênero e Dispositivos: Cultura e Processos de Subjetivação. 1. ed. Curitiba: Appris, v. 1. 303p.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Concedo a Revista Universo Psi o direito de primeira publicação da versão revisada do meu artigo, licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista).
Afirmo ainda que meu artigo não está sendo submetido a outra publicação e não foi publicado na íntegra em outro periódico e assumo total responsabilidade por sua originalidade, podendo incidir sobre mim eventuais encargos decorrentes de reivindicação, por parte de terceiros, em relação à autoria do mesmo.
Também aceito submeter o trabalho às normas de publicação da Revista Universo Psi acima explicitadas.
A submissão de um manuscrito à Revista Universo Psi autoriza a realização de eventuais correções de linguagem por ocasião da publicação, desde que não alterem o texto submetido.